O caminho para o
abismo económico e social trilhado pelo atual Governo e o desprezo pelos
interesses do povo e do País há muito evidenciam um Governo e uma maioria
isolados política e socialmente pela luta dos trabalhadores e do povo e
irremediavelmente derrotados. À falta de legitimidade política de um Governo
que pratica uma política fora da lei e em confronto com a Constituição da
República Portuguesa, soma-se agora a ilegitimidade democrática que resulta da
devastação da sua base eleitoral. Perante o rumo de desastre económico e social
para o qual o País está a ser arrastado não há nenhuma outra saída digna e
democrática que não seja a dissolução da Assembleia da República e a convocação
de eleições antecipadas.
I
Uma política de
exploração, empobrecimento e desastre económico e social
Quase três anos passados sobre o início de funções do XIX Governo Constitucional e da imposição pelas troicas nacional e estrangeira do Pacto de Agressão, a situação económica e social revela, em toda a sua dramática extensão, o resultado de um programa ao serviço do grande capital nacional e transnacional e do diretório de potências da União Europeia. Uma realidade que, desmentindo a propaganda, as manobras e mistificações, mostra um país mais dependente e diminuído na sua soberania, sem condições de crescimento económico sustentado, marcado por crescentes desigualdades e injustiças sociais.
A pretexto de um
inventado «milagre económico», para consumo eleitoral, o Governo e os partidos
que o suportam, recorreram e recorrem a grosseiras mistificações para iludir as
consequências concretas na vida de milhões de portugueses de uma política
orientada para liquidar direitos e favorecer a acumulação capitalista à custa
da exploração dos trabalhadores, da destruição massiva de emprego e do
empobrecimento da generalidade do povo. Manobras e mistificações que, sob a
efabulação de uma «saída limpa» ou da retórica sobre a libertação do país da
condição de «protetorado», tiveram e têm por objetivo esconder dos portugueses
o projeto de amarrar Portugal à situação de dependência, por via dos mesmos ou
de outros instrumentos de dominação da União Europeia (designadamente por via
do Tratado Orçamental). Manobras, mentiras e mistificações que, invocando a
consolidação orçamental e a confiança dos «mercados», ambicionam poder
perpetuar a exploração, a redução dos salários, a liquidação do direito à
saúde, à educação e à proteção social, num caminho de comprometimento da
soberania nacional.
Tendo definido como
objetivo central da ação governativa o empobrecimento do povo e do país, o
Governo e a maioria que o suporta pretendem prosseguir uma política de
destruição das condições de vida de milhões de portugueses. A proclamação de
que «o país está melhor, a vida dos portugueses é que não», é reveladora do
desprezo pelas condições de vida dos trabalhadores e do povo e da natureza de
uma política de exploração e agravamento das desigualdades e injustiças
sociais.
Três anos passados
sob o manto do Pacto de Agressão que PSD, PS e CDS subscreveram, a obra de
destruição do País e das condições de vida dos portugueses está à vista: mais
670 mil desempregados, 470 mil empregos destruídos, 600 mil portugueses
lançados na pobreza (elevando para quase três milhões o seu número total), uma
recessão superior a 6 % sem precedentes desde a 2ª Guerra Mundial, mais de 200
mil portugueses condenados a uma emigração forçada, quase 100 mil empresas
liquidadas, um país mais endividado e sujeito a um serviço da dívida
insustentável, entrega ao grande capital (sobretudo estrangeiro) de empresas e
sectores estratégicos indispensáveis ao desenvolvimento do país, destruição de
serviços públicos e das funções sociais do Estado. Ao mesmo tempo, avolumam-se
as desigualdades e injustiças, polariza-se a riqueza em meia dúzia de grupos
económicos, oferecem-se pacotes milionários de apoio à banca e transferem-se
para os bolsos dos que especulam com a dívida portuguesa os rendimentos dos
trabalhadores e do povo.
Uma política de
esbulho dos rendimentos dos trabalhadores e dos reformados, de saque às
famílias e aos micro, pequenos e médios empresários, de imposição de novas
obrigações fiscais sobre os pequenos e médios agricultores, de degradação das
funções sociais do Estado que, presente no Orçamento do Estado para 2014,
conheceu já novas medidas de agravamento com o aumento da «Contribuição
Extraordinária de Solidariedade» e dos descontos para a ADSE, que constituirão
uma nova redução nos rendimentos de centenas de milhares de portugueses. E, por
outro lado, de incentivo e manutenção de privilégios ao grande capital, como o
testemunha o escandaloso volume de benefícios fiscais concedidos aos grupos
económicos e ocultados da Conta Geral do Estado (mais de mil milhões de euros
em 2012), de bónus fiscal por via da redução do IRC que, a par da impunidade
patente na prescrição de responsabilidades financeiras de milhões de euros
devidas por banqueiros ao Estado, é parte do processo de polarização da riqueza
que aumenta a fortuna de alguns poucos à custa da miséria de muitos.
Não há campanha de mistificação
que possa ocultar este caminho que o Governo pretende impor de condenação
perpétua do país à dependência e do povo ao empobrecimento, que passa por
tornar definitivos os cortes dos salários, pensões e apoios sociais que
apresentaram como temporários; pela promoção da precariedade e redução de
salários; pelas alterações para pior do Código do Trabalho (facilitação dos
despedimentos e fragilização da contratação coletiva); pelo ataque ao direito à
reforma, aos serviços públicos e às funções sociais do Estado; pelo
estrangulamento da atividade dos pequenos e médios empresários e dos pequenos e
médios agricultores; pela alteração à Lei dos Baldios que pretende esbulhar aos
compartes o direito ao seu uso, gestão e propriedade; pela alienação da capacidade
produtiva nacional; pela transferência para o grande capital nacional e
transnacional de empresas e sectores estratégicos por via do processo de
privatizações que tem vindo a ser concretizado (Cimpor, EDP, CTT, ENVC, EGF,
CGD, TAP, ANA, Águas de Portugal, entre outras); pela submissão do país ao
garrote de uma dívida que compromete a soberania, impede o investimento público
e o crescimento e desenvolvimento económico e torna cada vez mais insuportável
a vida do povo português.
A mais grave
situação nacional desde os tempos do fascismo torna indesmentível o retrocesso
económico e social a que conduziu a política de direita executada nos últimos
37 anos por sucessivos governos, agravada nos últimos anos pela execução dos
PEC e do Pacto de Agressão assinado por PS, PSD e CDS com a troica estrangeira
do FMI, BCE e Comissão Europeia.
A urgência da
demissão deste Governo é tão mais atual e imperiosa quanto o Governo se prepara
para, numa “fuga para a frente”, desencadear um novo assalto a salários e
direitos como o Documento de Estratégia Orçamental confirma.
A apresentação da
chamada “estratégia de médio prazo”, que o Conselho de Ministros de 17 de maio
aprovou numa operação de propaganda e vassalagem junto dos especuladores
internacionais, é disso testemunho: uma estratégia assente no Documento de
Estratégia Orçamental e no Guião para a Reforma do Estado com o que isso
significa de mais cortes nos salários e pensões tornando o que era transitório
em definitivo e o que era excecional em permanente, mais impostos sobre os
trabalhadores e o povo (de que é exemplo o aumento da TSU e do IVA), mais
dificuldades no acesso à saúde, à educação e à proteção social, no quadro de um
crescimento económico quando muito residual e de uma taxa de desemprego
insuportável, em que os grupos económicos continuam a beneficiar de mais
privilégios, apoios e benefícios fiscais.
A proposta de
revisão do Código do Trabalho visando a destruição da contratação coletiva, com
o que ela comporta de garantia de direitos e rendimentos dos trabalhadores, a
legislação laboral da administração pública e a proposta dos chamados
“benefícios fiscais ao investimento”, que não é mais do que um novo e
milionário pacote de benesse fiscal ao grande capital, são testemunho da
intenção do Governo intensificar a sua política de exploração, empobrecimento e
agravamento das injustiças.
Uma demissão tanto
mais urgente e imperiosa quanto, para lá da cortina de propaganda, dos sinais
de retoma e do “milagre económico”, o País se continua a afundar sob o peso de
uma dívida insustentável que impede o desenvolvimento e crescimento económicos,
como comprovam os indicadores dos últimos dias que dão conta de um novo aumento
da dívida pública no final do primeiro trimestre de 2014 (a fixar-se num novo
máximo de 132.4% do PIB), do agravamento acentuado do défice orçamental no
último mês do quadrimestre e, em particular, o regresso a novas quebras do PIB
neste trimestre (quebra de 0.7% em cadeia).
Ao mesmo tempo que
o Governo procurava celebrar a alegada “saída limpa” do pacto com a troica, não
faltavam vozes nos círculos governantes, corroboradas pelo Presidente da
República, a afirmar a convicção de que a submissão perante a troica, os
“mercados financeiros” e os ditames do Pacto de Estabilidade iriam obrigar os
portugueses a mais 25 anos de empobrecimento. A ameaça da eternização desta
política coloca os trabalhadores e o povo perante a necessidade de lhe resistir
e torna imperiosa a exigência da demissão do Governo e da convocação de
eleições legislativas antecipadas, abrindo o caminho a uma alternativa
política.
II
O isolamento social e político do Governo PSD/CDS
Ao fim de quase
três anos de mandato é evidente o isolamento social e político do Governo
PSD/CDS-PP de Passos Coelho e Paulo Portas.
A ação política e
legislativa do Governo tem-se caracterizado por um permanente confronto com a
Constituição da República Portuguesa e com os valores, princípios e direitos
democráticos nela consagrados.
Perante a legítima
declaração de inconstitucionalidade de algumas das medidas violadoras de
princípios constitucionais fundamentais, o Governo prossegue a sua afronta ao
povo português, ameaça com novas e mais graves medidas e põe em causa, através
de uma chantagem permanente sobre o Tribunal Constitucional, princípios
basilares do regime democrático como a própria existência de mecanismos
institucionais que assegurem o respeito pela Constituição.
Portugal e o povo
português estão a braços com um Governo que, assumindo uma política de
subversão do regime democrático e de confronto com a Constituição da República
Portuguesa, põe em causa o regular funcionamento das instituições democráticas
e apenas permanece em funções devido à conivência e apoio do grande capital e
do Presidente da República que, ao arrepio do juramento que fez de cumprir e
fazer cumprir a Constituição, dá cobertura às suas políticas.
A intensa e ampla
luta travada pelos trabalhadores e pelo povo português ao longo destes anos
confirmou o crescente sentimento de rejeição da política de direita e
isolamento do Governo que a executa, agora traduzido no pior resultado
eleitoral de sempre de PSD e CDS-PP.
A clamorosa derrota
sofrida por PSD e CDS-PP nas eleições para o Parlamento Europeu do passado dia
25 de maio, representa uma poderosa manifestação de vontade do povo português
em interromper este caminho de desastre a que a Assembleia da República não
pode permanecer alheia.
Nestas eleições, os
portugueses demonstraram com total clareza a sua exigência de demissão do
Governo e de convocação de eleições legislativas antecipadas que abram caminho,
não a uma alternância política sem alternativas, mas a uma verdadeira política
alternativa.
III
A ruptura com a
política de direita e a construção da política alternativa, patriótica e de
esquerda de que o país necessita
Os resultados
eleitorais deixam ainda mais evidente para um número cada vez maior de
portugueses a necessidade e a urgência de ruptura com esta política de
afundamento nacional e agravamento das desigualdades e injustiças que empurra o
País para o desastre e compromete a sua soberania e independência.
A derrota do
Governo PSD/CDS-PP e a convocação de eleições antecipadas são condições
indispensáveis para abrir caminho a uma verdadeira mudança de política. Uma
mudança de política que não se basta com alterações pontuais de designação ou
intensidade das medidas e políticas adotadas, antes exige a ruptura com a
política de direita em Portugal e com os eixos fundamentais do processo de
integração capitalista europeu.
A situação
evidencia cada vez mais a necessidade e urgência de uma política que, afirmando
os interesses do povo e do País e a decisão soberana do povo português, se
baseie em seis opções fundamentais e indispensáveis:
• a rejeição dos
condicionalismos externos e a renegociação da dívida nos seus montantes, juros,
prazos e condições de pagamento rejeitando a sua parte ilegítima, com a
assunção imediata de uma moratória negociada ou unilateral e com redução do
serviço da dívida para um nível compatível com o crescimento económico e a
melhoria das condições de vida;
• a defesa e o
aumento da produção nacional, a recuperação para o Estado do sector financeiro
e de outras empresas e sectores estratégicos indispensáveis ao apoio à
economia, o aumento do investimento público e o fomento da procura interna;
• a valorização
efetiva dos salários e pensões e o explícito compromisso de reposição de
salários, rendimentos e direitos roubados, incluindo nas prestações sociais;
• a opção por uma
política orçamental de combate ao despesismo, à despesa sumptuária, baseada numa
componente fiscal de aumento da tributação dos dividendos e lucros do grande
capital e de alívio dos trabalhadores e das pequenas e médias empresas,
garantindo as verbas necessárias ao funcionamento eficaz do Estado e do
investimento público;
• uma política de
defesa e recuperação dos serviços públicos, em particular nas funções sociais
do Estado (saúde, educação e segurança social), reforçando os seus meios
humanos e materiais, como elemento essencial à concretização dos direitos do
povo e ao desenvolvimento do País;
• a assunção de uma
política soberana e a afirmação do primado dos interesses nacionais nas
relações com a União Europeia, diversificando as relações económicas e
financeiras e adoptando as medidas que preparem o País face a uma saída do Euro,
seja por decisão do povo português, seja por desenvolvimentos da crise da União
Europeia.
Uma política
patriótica e de esquerda que retome os valores de Abril e dê cumprimento ao
projeto de progresso e justiça social que a Constituição da República Portuguesa
consagra.
Esta moção de
censura traduz o sentimento popular de rejeição da política de direita e do
Governo que a executa e corresponde à exigência de uma política patriótica e de
esquerda, necessária a um futuro de progresso e desenvolvimento do país.
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