O PCP chama atenção
para a dimensão e gravidade da evolução e degradação da situação política e
institucional para a qual o governo e os partidos da maioria estão a arrastar o
País, numa escalada sem precedentes contra a Constituição da República Portuguesa.
As sucessivas
declarações proferidas por membros do governo e responsáveis dos partidos que o
suportam que insistem na tentativa de transferir para o Tribunal Constitucional
as suas próprias responsabilidades pelas medidas e políticas inconstitucionais
que aprovam e querem impor, configuram um ataque ao regime democrático.
Mesmo que se
invoque que os ataques dirigidos ao Tribunal Constitucional e aos juízes, foram
feitas por dirigentes do PSD e CDS (no caso do CDS-PP pelo presidente do
partido e vice primeiro-ministro) enquanto líderes partidários e não enquanto
titulares do governo, esta atitude confirma a linha de afronta do governo e a atual
maioria a tudo quanto resiste, se opõe e contraria os objectivos de uma
política fora da Lei e evidencia o comprometimento do regular funcionamento das
instituições.
Não pode ser
ignorado, num juízo sério sobre o governo e a sua política, o facto do acórdão
do Tribunal Constitucional da passada sexta-feira ter sido a terceira
declaração de inconstitucionalidade no terceiro Orçamento do Estado apresentado
por este governo e esta maioria PSD/CDS, aos quais se juntam outros seis
diplomas do governo ou da maioria numa clara confirmação de que o governo
insiste em governar à margem da lei e da Constituição.
O facto de estarmos
perante um governo que reiteradamente viola a Constituição da República e
sistematicamente desfere ataques a um outro órgão de soberania, devia levar o
Presidente da República a retirar a ilação necessária e que há muito se
justifica, a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições
antecipadas.
Decisão que assume
ainda maior justificação quando é conhecido que o povo português ao infligir,
com o seu voto no passado dia 25 de Maio, uma inapelável derrota, a maior de
sempre em eleições, aos partidos do governo, mostrou não só, uma inquestionável
expressão da vontade em interromper o caminho de ruína nacional que está em
curso, como confirmou, o seu isolamento crescente nos planos político, social e
agora eleitoral.
O PCP denuncia as
manobras do governo para recusar dar cumprimento à decisão do Tribunal
Constitucional e para instrumentalizar a Assembleia da República num pedido sem
qualquer suporte jurídico, de aclaração do Acórdão proferido.
Dando cobertura a
essa estratégia, PSD e CDS, em confronto com a própria Presidente da Assembleia
da República, impuseram hoje a captura das competências do Plenário da
Assembleia da República, forçando uma tomada de decisão na Conferência de
Líderes no sentido pretendido pelo Governo, decisões das quais o PCP
imediatamente apresentou recurso para o Plenário.
Trata-se de um
governo derrotado e enfraquecido que procura com estas manobras dilatórias,
criar as condições para prosseguir e perpetuar uma política de exploração e
empobrecimento e de desastre nacional, de roubo nos salários, nas reformas, nos
direitos, de garantia de privilégios dos grupos económicos e financeiros e de
hipoteca da soberania nacional escondendo a existência de um projeto que visa
manter amarrado o País a uma situação de subalternidade e dependência, quer por
via de novos compromissos com a troika estrangeira, quer pela via de
outros instrumentos de dominação da União Europeia, designadamente do Tratado
Orçamental.
O que o governo
tinha e tem em preparação, mesmo antes de conhecida a decisão do Tribunal
Constitucional, é a imposição de mais cortes nos salários e pensões tornando o
que era apresentado como transitório e excepcional em definitivo e ordinário,
mais impostos sobre os trabalhadores e o povo, maior redução no acesso à saúde,
educação e prestações sociais, mais privatizações e afundamento do País.
O PCP denuncia a
hipocrisia de um governo que tendo decretado o mais brutal aumento de impostos
e que tendo ainda recentemente imposto mais um aumento do IVA e da TSU, venha
agora querer atribuir ao TC os novos aumentos de impostos sobre os
trabalhadores e o povo que tem em preparação.
O PCP não pode
deixar de condenar um governo que em nome da submissão e vassalagem aos
interesses dos especuladores e do diretório de potências da União Europeia
pretende impor um regime de exceção, substituir o direito e leis normais pelo
que denomina de “obrigação perante o Tratado Orçamental e normas europeias
relativas ao controlo de défices excessivos”, substituir os tribunais e instituições
nacionais por centros dominados pelos interesses do capital transnacional. Como
não pode deixar de assinalar não só a inqualificável ingerência de Durão
Barroso, de Olli Renh e do FMI a propósito da decisão do TC como o silêncio do
governo e do PR perante tais afirmações.
O PCP reafirma que
as soluções para o País não passam por mais cortes, nos salários, reformas e
direitos, nem mais impostos sobre os trabalhadores e o povo mas sim, cortar no
serviço da dívida, nas PPP, Swap e nos benefícios fiscais e outras benesses ao
grande capital.
Face à realidade do País:
- O PCP informa que
solicitou já hoje ao Presidente da República uma audiência para expor a sua
apreciação sobre a evolução e degradação da situação política e institucional e
o grave quadro económico e social do País;
- o PCP assume a
determinação de intervir usando todos os mecanismos à sua disposição para
combater o propósito do Governo de instrumentalização da Assembleia da
República no processo de confrontação e desestabilização institucional;
- o PCP apela aos
democratas e patriotas para a sua mobilização e intervenção para a condenação
da ação do Governo e dos partidos que o suportam, a ruptura com a política de
direita e a afirmação de uma política patriótica e de esquerda vinculada à
Constituição da República Portuguesa e aos valores de Abril;
- o PCP dirige-se
aos trabalhadores e ao povo português afirmando que é possível, com a sua força
e a sua luta, abrir o caminho a uma nova política e apela à participação na
jornada de luta convocada pela CGTP-IN com grandes manifestações no dia 14 de
Junho no Porto e dia 21 de Junho em Lisboa.
A situação
evidencia a cada dia mais que é preciso romper com esta política e com o
domínio do grande capital e a submissão nacional e afirmar a alternativa capaz
de construir uma política patriótica e de esquerda que assegure o
desenvolvimento soberano do País.
Uma política
baseada em seis opções fundamentais, nas quais se incluem: a renegociação da
dívida; a defesa e o aumento da produção nacional; a recuperação para o Estado
dos sectores estratégicos; a valorização efetiva dos salários e pensões e o explícito
compromisso de reposição de salários, rendimentos e direitos roubados, a
afirmação da soberania e independências nacionais.
A inadiável ruptura
com a política de direita, que abra caminho à construção de uma política
alternativa patriótica e de esquerda, constitui um imperativo nacional, uma
condição para assegurar um Portugal com futuro, de justiça social e progresso,
um País soberano e independente.
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