O Comité Central do
PCP, reunido a 29 e 30 de Junho de 2014, analisou a situação económica, social
e política do País, as consequências profundamente nocivas da política de
direita e da ação do Governo, em confronto com a Constituição da República; avaliou
o desenvolvimento da luta dos trabalhadores e do povo; apreciou aspectos da
situação internacional e na União Europeia; e definiu orientações quanto à
iniciativa política, à luta pela concretização de uma alternativa patriótica e
de esquerda e ao reforço do Partido.
I - A situação nacional e a luta pela ruptura com
a política de direita
1. Mais de três décadas e meia de política de direita e de
abdicação nacional, ao serviço dos grandes grupos económicos e financeiros,
agravadas com a imposição pelas troikas nacional e estrangeira do Pacto de
Agressão, conduziu o País à mais grave situação económica e social do Portugal
democrático.
Apesar de todas as
mistificações, nomeadamente a do «milagre económico» e da encenação em torno da
alegada “saída limpa”, o Governo PSD/CDS-PP e os partidos que o suportam, já
não conseguem esconder as consequências da brutal escalada antissocial e antipopular
realizada em nome da crise e do suposto combate à dívida e ao défice das contas
públicas – num processo comandado pelo grande capital e por grupos económicos
nacionais e internacionais, e em que PS, PSD e CDS-PP são os principais
executantes. Uma política de exploração que está a conduzir o povo e o país ao
empobrecimento com consequências dramáticas na vida de milhões de portugueses.
2. O Comité Central do PCP chama a atenção para o facto de que a
evolução da situação nacional não só confirma o aprofundamento da crise
económica e social, mas também o desenvolvimento de uma crise política e
institucional, e evidencia a necessidade da urgente ruptura com a política de
direita.
No plano económico,
a situação continua marcada pela mais prolongada e profunda recessão desde a 2ª
Guerra Mundial, com uma quebra acumulada do PIB de 6% nos últimos três anos.
Uma realidade que é acompanhada pela dimensão estrutural do desemprego, que
atinge mais de um milhão e quatrocentos mil trabalhadores; pelo alastramento da
precariedade e pelo acentuado crescimento da pobreza, para onde foram atiradas
quase três milhões de pessoas. A conjugação dos elevados níveis de emigração –
só comparáveis aos existentes na década de 60 do século passado – com a quebra
da natalidade decorrente da degradação da situação social e a queda brutal do
investimento neste período, de cerca de 35% (infraestruturas, equipamentos,
maquinaria, tecnologia e investigação), tendo efeitos imediatos na atualidade, projeta,
a não ser invertida a atual política, um rumo de definhamento económico, social
e demográfico que compromete o futuro do país enquanto nação soberana.
Respondendo à
lógica dos processos de concentração e acumulação inerentes à natureza do
capitalismo, não só se intensifica o processo de reconstituição monopolista em
Portugal como se acentua o rumo de integração capitalista da União Europeia,
designadamente por via do Tratado Orçamental e do Euro a que PS, PSD e CDS
amarraram Portugal.
Uma ofensiva que,
no plano económico, financeiro e orçamental pressupõe manter Portugal atrelado
às mesmas políticas que conduziram o país para o desastre, como aliás revela o
Documento de Estratégia Orçamental, que aponta a concretização, designadamente,
de um novo aumento do IVA, do aumento da chamada TSU sobre os trabalhadores, da
aplicação do plafonamento das pensões e da substituição da chamada Contribuição
Extraordinária de Solidariedade por um imposto permanente sobre os rendimentos
de trabalhadores e reformados, a que se soma a continuação da política de
privatizações.
Uma ofensiva que
exprime o profundo confronto de interesses que existe hoje na sociedade
portuguesa e que tem vindo a agudizar-se: de um lado os grupos económicos e
financeiros, associados e dependentes do grande capital estrangeiro e que
dominam sectores estratégicos como a banca e, não menos importante, o poder
político; do outro, os trabalhadores, os agricultores, os pescadores, os micro,
pequenos e médios empresários, os jovens, as mulheres, os reformados e outras
camadas sociais não monopolistas, que sofrem na pele as consequências da
política que serve os primeiros.
O Comité Central do
PCP evidencia que, tal como alertou, a chamada “saída limpa” constitui não só
uma imensa mentira como um elemento de propaganda para procurar iludir os
verdadeiros propósitos da política das troikas. A reafirmação pelo governo e
por instituições internacionais (da União Europeia ao FMI) da condenação de
Portugal a um regime de liberdade condicional por mais de três décadas, o
crescimento meteórico da dívida pública (cerca de 132% do PIB) com os encargos
brutais, presentes e futuros (estima-se que em 2015 o pagamento de juros da
dívida pública à banca ascenda a mais de 8 mil milhões de euros), bem como a
divulgação, pelo Banco de Portugal, de uma alegada necessidade de mais de sete
mil milhões de euros de cortes na despesa para os próximos anos revelam os projetos
para prosseguir a política que, a pretexto de uma chamada “assistência
financeira”, conduziu o País para o abismo económico e social.
3. O Comité Central do PCP chama a atenção para o conjunto de
informações que, apresentadas como uma guerra de sucessão no seio da família
Espírito Santo, pretendem sobretudo esconder a realidade das práticas
desenvolvidas pelos grupos financeiros – ligações tentaculares de domínio, quer
económico quer político; manipulação de contas e do mercado; fuga e evasão
fiscais – assegurando, por via de práticas obscuras, financiamentos para os
próprios negócios do grupo e largas margens de lucros construídas à custa da
exploração dos seus trabalhadores, dos depositantes e dos custos do crédito
cobrado às famílias, ao Estado e às pequenas e médias empresas.
Uma vez mais, e a
exemplo de casos como o BPN, o BPP, o BCP ou o BANIF, estes processos
desenvolveram-se com a cumplicidade de sucessivos Governos do PS, PSD e CDS e a
passividade do Banco de Portugal – cada vez mais capturado pelos interesses da
banca – custando milhares de milhões de euros ao erário público. Ao mesmo
tempo, somam-se perdões fiscais e concedem-se escandalosos benefícios e apoios
públicos à banca, como os que estão a ser preparados por via da recente
“Proposta de Lei sobre Activos por Impostos Diferidos” apresentada pelo
governo.
Para além de exigir
do Banco de Portugal e do Governo, um esclarecimento e intervenção que ponham
cobro às situações fraudulentas e à sua impunidade, o Comité Central do PCP
reafirma, simultaneamente, a necessidade do controlo público da banca
comercial, colocando-a, não ao serviço desta ou daquela família ou grupo de acionistas,
mas sim, ao serviço do povo e do País.
4. O Comité Central do PCP denuncia a intensificação da ofensiva
do Governo e dos partidos que lhe dão suporte para impor novas medidas de
exploração, liquidação de direitos e empobrecimento. São disso exemplo: o novo
ataque dirigido contra os direitos e os salários, com destaque para a aplicação
da Lei Geral de Trabalho em Funções Públicas e para a revisão do Código do
Trabalho, cujo objectivo é levar à destruição da contratação colectiva; as
propostas para consagrar a Tabela Remuneratória Única e a tabela de suplementos
na Administração Pública; o conjunto de medidas que visam a imposição de mais
cortes nos salários e pensões, transformando o transitório e excepcional, em
definitivo e permanente; uma nova subida dos impostos sobre os rendimentos do
trabalho e o consumo das famílias; a redução no acesso à saúde, à educação e à proteção
social, com novos cortes nos Serviços Públicos; as manobras para fugir ao
pagamento por inteiro dos subsídios de Férias e de Natal na Administração
Pública e nas empresas do Sector Empresarial do Estado, contra o que foi
determinado pelo recente acórdão do Tribunal Constitucional.
O Comité Central do
PCP alerta ainda para o programa de fecho de centenas de escolas do 1º ciclo do
ensino básico; para a iminência das instituições de ensino superior não terem
dinheiro para pagar salários; para a publicação recente da Portaria que
reclassifica os hospitais do SNS, condicionando ainda mais o acesso aos
cuidados hospitalares e para a degradação da prestação dos cuidados de Saúde;
para o projeto de criação dos chamados “balcões únicos”, que visam conduzir ao
encerramento de serviços públicos e ao despedimento de milhares de
trabalhadores, transferindo para as autarquias encargos que são da
responsabilidade da Administração Central; para a proposta de criação do
chamado Fundo de Apoio Municipal – FAM, que é em si mesmo factor de extorsão
financeira ao conjunto dos municípios e um passo mais no ataque à autonomia do
poder local.
O Comité Central do
PCP condena a proposta de alterações da Lei dos Baldios, que visa espoliar os
compartes dos seus direitos históricos e constitucionais e o propósito de
extinção ou privatização da Casa do Douro, deixando milhares de
vitivinicultores desprotegidos face aos grupos económicos/empresas
exportadoras.
5. Os mais recentes desenvolvimentos, nomeadamente os sucessivos
ataques ao Tribunal Constitucional e aos Juízes, confirmam o que há muito o PCP
denunciou: estamos perante um Governo, uma maioria e uma política que assumem
na sua ação que a Constituição da República Portuguesa é um obstáculo aos seus projetos.
O facto de o
Tribunal Constitucional, no Acórdão tornado público no passado dia de 30 de
Maio, ter declarado inconstitucionais três normas do Orçamento do Estado
(cortes nos salários dos trabalhadores da Administração Pública; cortes nas
pensões de sobrevivência; aplicação dos cortes sobre os subsídios de desemprego
e de doença) naquela que é a terceira declaração de inconstitucionalidade em
outros tantos Orçamentos do Estado apresentados por este Governo, aos quais se
juntam outros seis diplomas, confirma que o Governo insiste em governar à
margem da lei e da Constituição da República.
O Comité Central do
PCP denuncia a escalada de confronto institucional traduzida nas múltiplas
acusações dirigidas aos juízes do Tribunal Constitucional; nas manobras
dilatórias do Governo com o objectivo de procurar transferir para este Tribunal
a responsabilidade por novas medidas de ataque aos trabalhadores e ao povo que
já tinha em preparação; nas tentativas de não cumprimento das decisões do
Tribunal Constitucional; e na instrumentalização da Assembleia da República
para que esta assumisse, tal como veio a acontecer, apesar da oposição do PCP,
um pedido de aclaração do Acórdão.
O Comité Central do PCP denuncia os projetos de
Revisão Constitucional dos que, como PSD e CDS, atuando sistematicamente em
confronto com a Constituição da República Portuguesa, visam a sua subversão.
6. O Comité Central do PCP reafirma que na atual situação de crise
política e institucional, perante um Governo e uma maioria parlamentar que há
muito puseram em causa o regular funcionamento das instituições, o Presidente
da República, ao manter o Governo em funções e ao não convocar eleições
antecipadas, não deu, ao contrário do que afirma, um passo para vencer os
problemas nacionais, mas sim para o agravamento da crise económica, social,
política e institucional em que o País se encontra.
Para o PCP não há nenhuma outra saída digna e
democrática que não seja a dissolução da Assembleia da República e a convocação
de eleições antecipadas.
A Moção de Censura
apresentada pelo PCP, que teve como objectivo dar expressão institucional à
censura que o povo, com o seu voto, exprimiu aos partidos do Governo,
constituiu uma forte afirmação de que a luta pela demissão do Governo é justa e
não vai parar. A discussão e não aprovação da moção de censura, pelo voto do
PSD e CDS, evidenciaram que a maioria parlamentar que suporta o Governo não
corresponde à realidade do País e colocaram assim com mais força a necessidade
de dissolução da Assembleia da República.
7. As reais perspectivas de ruptura com a atual política expressas
no desenvolvimento da luta, na ampliação da convergência de sectores e
personalidades democráticas e em particular no reforço eleitoral da CDU
explicam, não só uma indisfarçável preocupação para o grande capital, como
muitas das movimentações que visam assegurar o prosseguimento da política de
direita e impedir a concretização de uma real alternativa política. São
expressão dessas movimentações a insistência pelo Presidente da República no
chamado “consenso para a governação”, destinado a favorecer o entendimento
formal do partidos da política da troika (PS, PSD e CDS); o processo em curso
no PS, que a propósito de uma disputa pela liderança, procura iludir não só a
natureza e opções desse partido com a política de direita como rasurar o
indisfarçável comprometimento com os projetos e instrumentos que visam
perpetuar no futuro a submissão à União Europeia e aos interesses que a
comandam, e prosseguir a política de direita, por via do Tratado Orçamental ou
de outros instrumentos; a construção e promoção de falsas alternativas que, em
nome de um chamado “entendimento à esquerda”, mais não visam que viabilizar o
comprometimento e agregação com o PS para a continuação da política de desastre
nacional.
A ruptura com a atual
política e a construção de uma política alternativa são inseparáveis do
decisivo combate à política de direita e à ofensiva que este Governo desenvolve
contra os direitos e conquistas sociais. Mas é também inseparável do combate à
repetição de falsas alternativas, assentes em meras soluções de alternância (a
que não é alheia a retoma pelo PS da adulteração da lei eleitoral) que, em nome
da rotação de protagonistas e responsáveis, deixa incólumes o sentido, opções e
conteúdos das políticas que arrastaram o País para a crise que hoje
enfrentamos.
8. A ruptura com a política de direita e a afirmação da política
patriótica e de esquerda, vinculada à Constituição da República Portuguesa e
aos valores de Abril constituem um imperativo nacional. Uma política patriótica
e de esquerda centrada em seis opções fundamentais: a renegociação da dívida
nos seus montantes, juros, prazos e condições de pagamento, rejeitando a sua
parte ilegítima; a defesa e o aumento da produção nacional, a recuperação para
o Estado do sector financeiro e de outras empresas e sectores estratégicos; a
valorização efetiva dos salários e pensões e o explícito compromisso de
reposição dos salários, rendimentos e direitos roubados, incluindo nas
prestações sociais; uma política de combate às injustiças fiscais com a efetiva
tributação do grande capital; uma política de defesa e recuperação dos serviços
públicos, em particular no que concerne às funções sociais do Estado; a
assunção de uma política soberana e a afirmação do primado dos interesses
nacionais.
9. Perante o percurso de comprometimento e os projetos futuros de
PS, PSD e CDS para assegurarem, com os atuais ou outros rostos, a continuação
da política de direita; quando se torna mais evidente a possibilidade de, pela
sua ação e opção, os trabalhadores e o povo português darem força à
concretização de uma política alternativa; perante a crescente
descredibilização dos partidos da política da troika face aos indisfarçáveis
compromissos com o rumo de exploração e empobrecimento – são cada vez mais os
que veem no PCP a força indispensável para assegurar um Portugal com futuro.
Pela coerência da
sua intervenção, pela dimensão patriótica e de esquerda das suas propostas,
pelo valor do seu projeto, pelo percurso de trabalho, honestidade e competência,
pela reconhecida política de verdade, a que a vida deu e dá razão, o PCP
apresenta-se perante o País, os trabalhadores, os democratas e patriotas, como
a força capaz de agregar, unir e mobilizar todos os que aspiram a uma ruptura
com a política de direita e à concretização da política patriótica e de
esquerda e do governo que lhe dê expressão.
Resgatar o País do
declínio e da dependência é a opção que está colocada aos trabalhadores, aos
democratas e patriotas.
O Comité Central do
PCP apela aos trabalhadores, aos democratas e patriotas para que unam esforços,
integrem a frente social de luta contra a política de direita e assim, com a
sua luta e determinação, contribuam para libertar o País da submissão,
afirmando o direito inalienável a um Portugal soberano e desenvolvido.
II - Por uma alternativa patriótica e de esquerda
1. O Comité Central do PCP sublinha, como questão essencial, que a
ruptura com o rumo de afundamento nacional e a adopção de uma política
patriótica e de esquerda são a base da verdadeira alternativa que a situação
impõe. Uma alternativa cujo processo de concretização tem como elementos
decisivos o desenvolvimento e intensificação da luta dos trabalhadores e do
povo, a convergência dos democratas e patriotas e o reforço do PCP e dos seus
aliados na CDU.
2. O Comité Central do PCP avaliou o desenvolvimento da ação
visando a ruptura com a política de direita e a concretização da alternativa
patriótica e de esquerda.
Inserem-se nesta
dinâmica, no seguimento das eleições para o Parlamento Europeu: os comícios e
desfiles realizados; as ações de propaganda e as edições temáticas do Avante!
(salários e salário mínimo nacional, documento de estratégia orçamental,
legislação laboral e contratação colectiva, serviços públicos, SNS e Escola
Pública); a realização de sessões e reuniões e contactos no âmbito do “Diálogo
e ação para a alternativa patriótica e de esquerda”; a realização de reuniões
com o Partido Ecologista “Os Verdes” e a Associação Intervenção Democrática; as
iniciativas no plano institucional, designadamente a apresentação da moção de
censura ao Governo PSD/CDS-PP e o encontro de uma delegação do PCP com o
Presidente da República, a iniciativa dos deputados do PCP no Parlamento
Europeu de confrontarem a Comissão Europeia sobre os atos de ingerência contra
Portugal.
3. O Comité Central do PCP aponta a necessidade de prosseguir um
trabalho persistente, determinado e cada vez mais alargado com vista à ruptura
com a política de direita e à concretização de uma alternativa patriótica e de
esquerda, em que se inserem as seguintes ações:
- A realização de
uma ação dirigida aos trabalhadores e à população, que se expressará na ação de
contacto com os trabalhadores sobre a legislação laboral (Código do Trabalho e
legislação da Administração Pública), a contratação colectiva e o trabalho
suplementar e na ação centrada na defesa dos serviços públicos e das funções
sociais do Estado (SNS, escola pública, segurança social) contra o encerramento
e desqualificação de tribunais e contra as privatizações.
- O desenvolvimento
das comemorações do 40º aniversário do 25 de Abril e do ciclo de debates sob o
lema “Os valores de Abril no futuro de Portugal”, em que se inserem os debates
sobre o poder local, a 11 de Julho em Setúbal, e sobre o controlo público de
empresas e sectores estratégicos, a 16 de Julho, no Porto.
- A realização de
um debate subordinado ao tema «A situação em Portugal e na Europa pós-eleições
para o Parlamento Europeu. A luta em defesa dos interesses dos trabalhadores,
do povo e do País», no âmbito da intervenção do PCP no Parlamento Europeu,
assim como de outras iniciativas designadamente sobre a necessidade da
renegociação da dívida e o aprofundamento da discussão e iniciativa sobre o
Euro.
- A dinamização do
processo “Diálogo e acção para uma alternativa patriótica e de esquerda”,
prosseguindo e alargando o debate com democratas e patriotas em reuniões e
contactos diversos com pessoas sem filiação partidária.
- A realização de
um conjunto de reuniões e encontros com forças, sectores sociais e políticos e
outras entidades para avaliar a situação e expressar a posição do PCP.
III - Desenvolver a luta de massas
1. A luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo
destaca-se pela sua continuidade e diversidade, pelo seu papel em torno de
reivindicações específicas, no enfrentamento da ofensiva de agravamento da
exploração e empobrecimento, no contributo para o isolamento político e social
e para a derrota do Governo e da política de direita, pela afirmação confiante
dum Portugal desenvolvido e soberano.
2. O Comité Central do PCP valoriza as lutas dos trabalhadores nas
empresas e sectores na indústria (celulose e papel, alimentar, metalurgia,
material eléctrico e electrónico, têxtil - entre outros), nas cantinas, nos
hotéis, nos correios, nos transportes rodoviários de passageiros, na
comunicação social, na administração pública central e local, dos profissionais
das forças e serviços de segurança, dos militares.
Salienta igualmente
as lutas dos agricultores (povos dos baldios e vitivinicultores do Douro), da
juventude e dos estudantes, designadamente no ensino superior, a luta dos
reformados e pensionistas com expressões diversas em que sobressai a realização
em Grândola do 19º Piquenicão promovido pela Confederação Nacional de
Reformados-MURPI com milhares de participantes, a luta das pessoas com
deficiência e luta das populações contra o encerramento de serviços públicos,
centros de saúde e serviços hospitalares, escolas, repartições de finanças,
postos de forças de segurança e tribunais.
No último mês
destaca-se a luta contra a privatização da EGF e em defesa do serviço público
de tratamento e valorização de resíduos que uniu os trabalhadores da Valorsul,
da Amarsul e outras empresas do grupo, os trabalhadores da administração local,
as populações e as autarquias na Ação Nacional de 6 de Junho em Lisboa.
Particular
significado tiveram neste período a semana de luta de 26 a 30 de Maio e as
grandes manifestações realizadas no dia 14 de Junho no Porto e dia 21 de Junho
em Lisboa, promovidas pela CGTP-IN.
3. No quadro de uma forte ofensiva e de todo o tipo de
condicionamentos, a luta de massas, dos trabalhadores, de várias camadas e
sectores sociais, do povo português, infligiu sérias derrotas ao Governo e
assegurou importantes resultados.
É de destacar que a
luta dos trabalhadores é inseparável das decisões que obrigaram o Governo,
apesar das manobras dilatórias, a repor o pagamento dos salários dos
trabalhadores da administração pública por inteiro, bem como o subsídio de
férias e o subsídio de Natal, o pagamento dos subsídios de desemprego e de
doença na sua totalidade.
A manutenção ou
reposição do horário de trabalho das 35 horas semanais na larga maioria dos
municípios e em muitas freguesias constituem uma grande derrota do Governo e
das pretensões do grande capital sobre o horário de trabalho e uma grande
vitória dos trabalhadores.
São ainda de
destacar os resultados obtidos no aumento de salários, proteção de direitos,
integração de trabalhadores em situação precária, defesa de postos de trabalho.
O Comité Central do
PCP valoriza a luta, a resistência e os resultados obtidos e sublinha o papel
destacado da CGTP-IN, do movimento sindical unitário, dos sindicatos que o
integram e da ação e organização sindical nas empresas e locais de trabalho.
Salienta, também, o papel das Comissões de Trabalhadores com a sua ação
própria, complementar e em cooperação com os sindicatos. A organização é
elemento indispensável para assegurar a unidade da classe operária e dos
trabalhadores e o desenvolvimento da luta na base dos seus interesses de classe
e em defesa dos seus direitos.
4. O Comité Central considera da maior importância o
desenvolvimento, alargamento e intensificação da luta dos trabalhadores em
torno das suas reivindicações. O desenvolvimento da ação reivindicativa nas
empresas, locais de trabalho e sectores é um elemento decisivo, que deve ser
articulado com a luta para enfrentar e derrotar os projetos de alteração para
pior da legislação de trabalho e de prolongamento de cortes nos salários e
direitos.
Na atual situação, a
luta pela defesa dos serviços públicos, do serviço nacional de saúde, da escola
pública, da segurança social, dos Tribunais e contra as privatizações constitui
uma importante direção de trabalho.
Destacando as lutas
em curso nos vários sectores, o Comité Central do PCP apela à participação na
Jornada de luta convocada pela CGTP-IN para 10 de Julho em Lisboa.
A convergência da
luta dos trabalhadores, das várias camadas e sectores sociais, assentando nos
seus objectivos e reivindicações específicos, é determinante para a derrota do
Governo e da política de direita e a realização de eleições legislativas
antecipadas, abrindo caminho para a concretização de uma alternativa patriótica
e de esquerda.
IV - Reforçar a luta, a solidariedade e a
cooperação anti-imperialista
1.
O Comité Central do PCP
chama a atenção para o agravamento da instabilidade e da insegurança na
situação internacional, decorrente da escalada agressiva conduzida pelo
imperialismo norte-americano que, multiplicando focos de tensão e de desestabilização,
fomenta a guerra e promove a acção de forças fascistas, para tentar fazer face
à profunda crise com que se debate e conter a luta dos trabalhadores e dos
povos.
O agravamento da situação na Ucrânia, decorrente da violência
exercida pelo poder golpista, apoiado pelos EUA, a NATO e a União Europeia; a
deterioração da situação no Médio Oriente, com os recentes acontecimentos no
Iraque; a contínua agressão à Síria; os sistemáticos crimes de Israel contra o
povo palestino; as operações de recolonização em África; a crescente
militarização do Extremo Oriente movida pelos EUA e um Japão revanchista; a
ingerência cada vez mais aberta dos EUA na Venezuela e em outros países da
América Latina - são exemplos da escalada agressiva do imperialismo.
Perante uma tal
situação, assume particular importância a construção da mais ampla unidade em
torno da luta contra o imperialismo e a guerra, nomeadamente com o reforço do
movimento da paz e de solidariedade com os povos vítimas da agressão
imperialista.
Os perigos decorrentes
da preocupante evolução da situação internacional evidenciam a necessidade do
fortalecimento dos partidos comunistas, do reforço da sua cooperação e da
cooperação destes com outras forças progressistas e anti-imperialistas.
2. No plano europeu, o PCP, sempre empenhado no reforço da
cooperação solidária dos partidos comunistas, procura contribuir para a ação
comum ou convergente de todas as forças progressistas que, no respeito pela sua
identidade e independência, tenham como objectivo uma outra Europa dos
trabalhadores e dos povos.
O PCP considera que
posições de adaptação ao sistema, como as do Partido da Esquerda Europeia, ou
concepções dogmáticas e sectárias, têm introduzido factores de divisão e
incompreensão, que dificultam a cooperação e solidariedade entre os partidos
comunistas e outras forças progressistas na Europa, designadamente ao nível do
Parlamento Europeu.
O Comité Central do
PCP avalia positivamente o papel desempenhado pelo PCP em cooperação com outras
forças políticas para o prosseguimento do Grupo Confederal da Esquerda Unitária
Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL) e do seu contributo na luta por uma
outra Europa. O PCP valoriza que, não obstante a sua maior diversidade, se
confirmam princípios de funcionamento fundamentais do Grupo – natureza
confederal; sua autonomia e identidade própria face a outros grupos políticos
do Parlamento Europeu e outras estruturas ou espaços de cooperação; tomada de
decisões por consenso; igualdade entre as suas delegações e o respeito pelas suas
diferenças. A importância e o papel atual e futuro do Grupo são indissociáveis
da garantia da aplicação prática destes princípios e da sua intervenção em prol
de uma Europa de cooperação, de progresso e de paz.
O PCP continuará a
intervir – nomeadamente no quadro do Parlamento Europeu – na defesa dos
interesses dos trabalhadores, do povo e do País, rejeitando imposições e
limitações à democracia e à vontade dos povos e agindo pela ruptura com a União
Europeia dos grandes monopólios e das grandes potências, por uma Europa de
cooperação entre Estados soberanos e iguais em direitos, de progresso social e
de paz.
V - Por um PCP mais forte
1. O Partido Comunista Português confirma-se e afirma-se com a sua
identidade comunista como partido necessário, indispensável e insubstituível
para os trabalhadores, o povo e o País. Um Partido consciente das dificuldades
e obstáculos e determinado para os vencer. O Partido com o qual os
trabalhadores e o povo sempre podem contar.
2. O Comité Central do PCP salienta a importância de orientações e
tarefas para os próximos tempos em que se inserem: a dinamização da intervenção
política; o estímulo ao desenvolvimento da luta de massas; o trabalho para o
fortalecimento das organizações e movimentos unitários de massas, em particular
do movimento sindical unitário; o desenvolvimento do trabalho político unitário
e a intensificação da atividade internacional do Partido.
3. No quadro das tarefas e linhas de orientação para os próximos
tempos, o Comité Central salienta a importância particular da 38.ª Festa do
Avante!, que se realizará nos dias 5, 6 e 7 de Setembro de 2014 e a prioridade
que constitui o trabalho para o seu êxito.
4. O Comité Central do PCP destaca no plano da atividade editorial
o lançamento do V tomo das obras escolhidas de Álvaro Cunhal, no próximo dia 17
de Julho, em Lisboa, que reúne as contribuições no período de Abril de 1974 a
Dezembro de 1975, elemento da maior importância no conhecimento da obra do
autor, da ação do PCP e da Revolução de Abril.
5. O Comité Central do PCP valoriza a intensa atividade
internacional, levada a cabo neste período e salienta a realização do Seminário
Internacional «A Revolução portuguesa e a situação na Europa e no Mundo 40 anos
depois», no dia 5 de Setembro, bem como do 16º Encontro Internacional de
Partidos Comunistas e Operários, de 13 a 15 de Novembro, no Equador.
6. O Comité Central do PCP procedeu à análise da concretização da ação
de reforço do Partido “Mais organização, mais intervenção, maior influência –
um PCP mais forte”, cujo andamento confirma a sua importância e oportunidade,
salienta os passos já dados e aponta a necessidade de prosseguir e adoptar as
medidas de direção indispensáveis ao seu êxito.
O Comité Central do
PCP destaca o arranque da ação de contacto com os membros do Partido e o
desenvolvimento da ação de recrutamento “Os valores de Abril no futuro de
Portugal”, bem como progressos em outras linhas de orientação definidas.
O Comité Central
considera necessário concentrar atenções na concretização das orientações
fundamentais definidas:
-
na ação de contacto com os
membros do Partido para a elevação da militância, entrega do novo cartão de
membro do Partido e atualização de dados, acelerando o seu desenvolvimento e
assegurando que se considerem no contacto com cada membro do Partido os vários
aspectos indispensáveis à elevação da sua integração e militância;
-
no trabalho de
recrutamento, designadamente concretizando a campanha de adesão ao Partido, «Os
Valores de Abril no futuro de Portugal», de dois mil novos militantes até Abril
de 2015, alargando o levantamento de nomes e contactos e promovendo a
integração e formação dos novos membros do Partido;
-
na ação para aumentar a
capacidade de direção, alargar a responsabilização de quadros e elevar a
militância;
-
na prioridade do reforço da
organização e intervenção do Partido junto da classe operária e dos
trabalhadores, nas empresas e locais de trabalho;
-
no trabalho para dar mais
força à luta de massas e à intervenção política, estruturar a organização e
melhorar o seu funcionamento: dinamizando as organizações locais e a sua
estruturação, iniciativa própria e ligação às massas; promovendo a organização
dos militantes reformados e pensionistas e uma estruturação que contribua para
a dinamização do movimento unitário dos reformados, pensionistas e idosos, da
sua organização e luta; reforçando a ação e organização na área da cultura e
junto dos intelectuais e quadros técnicos, nas suas diversas expressões;
aprofundando o trabalho junto da juventude e o reforço da JCP; intensificando a
ação e adopção de medidas de organização e quadros junto dos micro, pequenos e
médios empresários e junto dos pequenos e médios agricultores dando novos
passos na ampliação dos seus movimentos e nas suas lutas; desenvolvendo a
estruturação do trabalho junto de outras camadas, sectores sociais e áreas de
intervenção específicas, nomeadamente no trabalho político unitário;
-
no reforço dos meios de ação
e intervenção do Partido, quanto à imprensa partidária, à informação e à
propaganda;
- na ação para defender e reforçar a independência financeira do
Partido.
7. Confiante na força dos trabalhadores, empenhado no
desenvolvimento e alargamento da frente social de luta, o PCP reafirma o seu
compromisso, com o povo português, de luta em defesa dos seus direitos e
aspirações, por um Portugal desenvolvido e soberano, pela ruptura com a
política de direita e pela concretização de uma alternativa patriótica e de
esquerda, pela Democracia Avançada – os valores de Abril no futuro de Portugal,
tendo como horizonte o Socialismo e o Comunismo.
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