O acordo hoje
divulgado entre a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e o
Governo sobre o Fundo de Apoio Municipal (FAM) constitui um ato de capitulação
política. Subscrito à revelia e em confronto com as conclusões aprovadas no
último Congresso da ANMP, este acordo, ao qual os eleitos da CDU nos órgãos da
Associação se opuseram, constitui um novo e profundo golpe na já débil
capacidade financeira dos municípios e na autonomia do Poder Local. Este acordo
encerra um processo articulado e encenado entre círculos da direção da ANMP e
membros do Governo para, a pretexto de acertos marginais à proposta
governamental - e umas quantas generalidades sobre a lei dos compromissos e a
política de pessoal -, assegurar os objectivos essenciais pré-definidos pelo
governo.
A proposta de lei
que institui e regulamenta o FAM, inseparável da política que, a pretexto da
consolidação orçamental e dos compromissos com a troika sobre o controlo dos
défices excessivos, constitui um novo instrumento de roubo dos recursos da
administração local, construído em confronto com a Constituição da República
Portuguesa e com o que ela consagra em matéria de autonomia do Poder Local.
O que agora se
apresenta, prolonga e agrava o que o chamado Programa de Apoio à Economia Local
constituiu. O FAM, não só é uma falsa resposta para os municípios que enfrentam
reais problemas financeiros, como se constituirá como factor de arrastamento de
todos os restantes municípios para a deterioração da sua situação. O FAM
assume-se, para lá da demagogia com que foi apresentado e agora justificado,
como um instrumento para instituir um verdadeiro “estado de exceção” para
justificar a suspensão de autonomia e um quadro sem precedentes de ingerência e
arbitrariedade, um elemento mais na política de redução dos serviços públicos e
de penalização das populações, através do aumento de preços, taxas e tarifas, e
da limitação da atividade municipal. Em nome da consolidação orçamental, o
Governo o que propõe é a criação de um novo instrumento que retira recursos às
autarquias e que destrói políticas públicas e emprego público. O que se impõe
é, não um processo de mutualização de dívida financiada pelos municípios, mas
sim a assumpção pelo Estado das suas responsabilidades.
O PCP sublinha que
a solução dos problemas financeiros das autarquias – decorrente, no essencial,
do roubo de mais de 1.300 milhões de euros imposto nos últimos quatro anos
pelos governos do PS e PSD/CDS – é inseparável da recuperação da capacidade
financeira dos municípios e da revogação da atual Lei de Finanças Locais; da
reposição da autonomia administrativa e financeira, em respeito pelos
princípios constitucionais (designadamente com a revogação da Lei dos
Compromissos e a a anulação das normas arbitrárias em matéria de pessoal); e do
aperfeiçoamento de instrumentos de saneamento financeiro já existentes.
Objectivos que, correspondendo aos reais problemas e condicionamentos
financeiros das autarquias, tiveram expressão no projeto de lei apresentado
pelo Grupo Parlamentar do PCP no quadro deste debate, constituía uma real e efetiva
solução para assegurar a autonomia do Poder Local e a sua capacidade para dar
resposta às aspirações, interesses e direitos das populações e dos seus
trabalhadores.
Sem comentários:
Enviar um comentário