A proposta de
Orçamento do Estado para 2014 traduz uma continuidade da política de direita
seguida nos últimos anos, agravando as condições de vida dos trabalhadores e do
povo.
No Orçamento do
Estado para 2014, contrariamente ao que a propaganda governamental procura
fazer crer, não há qualquer repartição equitativa de sacrifícios. Não há sequer
repartição de sacrifícios! Os sacrificados são sempre os mesmos, os
trabalhadores e o povo, enquanto a banca e os grandes grupos económicos se vão
apropriando de parcelas crescentes da riqueza nacional, seja através dos juros
da dívida pública, das privatizações, das parcerias público-privadas, dos
inúmeros benefícios fiscais, dos contratos swap, ou ainda de uma acentuada
diminuição de impostos que o Governo lhes pretende assegurar por via da reforma
do IRC.
Atuando como
conselho de administração do grande capital, o Governo impõe uma política
fiscal que onera cada vez mais os rendimentos do trabalho – de que é exemplo o
saque fiscal imposto em 2013 em sede de IRS e que o Governo pretende manter e
agravar em 2014 –, enquanto os rendimentos do capital continuam a beneficiar de
múltiplas isenções fiscais e o seu contributo para o financiamento do Orçamento
do Estado é cada vez menor. Também através do pagamento dos juros da dívida
pública – que em 2014 ultrapassam os 7.300 milhões de euros –, ou através do
aumento dos encargos com as parcerias público-privadas – que em 2014 quase
duplicarão – o Governo procede à transferência de rendimento do trabalho para
os grandes grupos económicos e financeiros.
As opções do PCP,
em matéria fiscal, são diametralmente opostas às do Governo: rompem com o
escandaloso favorecimento da banca e dos grandes grupos económicos, ao mesmo
tempo que aliviam a carga fiscal sobre os trabalhadores e o povo.
É neste sentido,
que o PCP apresenta um conjunto de propostas, em sede do Orçamento do Estado
para 2014, que aumenta a carga tributária sobre o grande capital, condiciona o
pagamento dos juros da dívida pública às reais possibilidades do País, elimina
inaceitáveis rendas garantidas pelo Estado à banca e aos grandes grupos
económicos, e estabelece uma mais justa tributação dos rendimentos mais
elevados, enquanto desagrava a carga tributária sobre os trabalhadores, os
reformados e pensionistas, as famílias, bem como sobre as micro e pequenas
empresas.
Relativamente a estas últimas propostas,
destacamos as seguintes:
1) Alteração dos
escalões do IRS, pondo fim ao saque fiscal dos rendimentos dos trabalhadores e
das famílias que o Governo impôs em 2013 e que pretende reeditar em 2014.
2) Eliminação da sobretaxa extraordinária de 3,5%
em sede de IRS.
3) Atualização, para € 2.068, do mínimo de
existência, libertando do pagamento de IRS os contribuintes com rendimentos
mais baixos.
4) Redução do IVA da restauração de 23% para 13%.
5) Redução do IVA da eletricidade e do gás natural
de 23% para 6%.
6) Alteração do
Estatuto dos Benefícios Fiscais, recuperando para as micro, pequenas e médias
empresas um regime de benefícios à interioridade, alargado às Regiões Autónomas
dos Açores e da Madeira.
7) Recuperação do regime de isenção do IVA para a
pequena agricultura de natureza familiar.
8) Eliminação da taxa adicional, em sede de
Imposto Único de Circulação, para viaturas a gasóleo.
Estas propostas do
PCP representam uma significativa redução da receita fiscal do Estado, que é,
contudo, mais do que compensada pelas seguintes propostas que incidem sobre os
lucros e as rendas da banca e dos grandes grupos económicos, assim como sobre
os rendimentos mais elevados:
9) Limitação do
pagamento dos juros da dívida pública a um montante máximo correspondente a
2,5% do valor das exportações de bens e serviços, acompanhado da exigência da
renegociação da dívida nos juros, prazos e montantes. Tal limitação,
correspondendo em 2014 a 1.660 milhões de euros, assegura que o País paga a
dívida pública sem empobrecer, à medida das suas reais possibilidades.
Simultaneamente, o PCP propõe que, para fazer face às necessidades de
financiamento do Orçamento do Estado, o Governo assegure o acesso direto do
Estado Português a financiamento do Banco Central Europeu em condições
idênticas àquelas que são concedidas aos bancos.
10) Anulação dos
encargos com as parcerias público-privadas, garantindo em 2014 apenas a
transferência para as entidades concessionárias das receitas obtidas com a
exploração e assegurando, excecionalmente, os recursos adicionais necessários à
prestação dos serviços e a manutenção dos postos de trabalho quando aquelas
receitas não sejam suficientes para o efeito. Esta medida é acompanhada de um
processo de extinção das parcerias público-privadas e consequente reversão para
o Estado.
11) Anulação dos
contratos swap, celebrados entre empresas públicas e a banca, eliminando as
perdas potenciais que lhes estão associadas.
12) Criação de um
imposto sobre transações financeiras realizadas em bolsa, inspirado na taxa
Tobin.
13) Utilização de parte da verba de 6.400 milhões
de euros, que o Governo tem reservado para a recapitalização da banca, para a
regularização das dívidas do Estado a empresas fornecedoras de bens e serviços.
14) Alteração do
Estatuto dos Benefícios Fiscais, eliminando os benefícios fiscais da Zona
Franca da Madeira e tributando à taxa de 28% os rendimentos obtidos em fundos
de capital de risco, fundos de investimento mobiliário e fundos de capital de
investimento imobiliários em recursos florestais.
15) Alteração do
Estatuto dos Benefícios Fiscais, eliminando os benefícios aplicáveis às
mais-valias realizadas por empresas e indivíduos não-residentes, entre os quais
a isenção total de tributação em IRC e IRS.
16) Alteração do
Estatuto dos Benefícios Fiscais, eliminando a isenção do IMI e do IMT de
prédios integrados em fundos de investimento imobiliário.
17) Englobamento,
em sede de IRS, de dividendos distribuídos a residentes por sociedades sediadas
em Portugal ou no estrangeiro, assim como de outros rendimentos de capital.
18) Tributação, à
taxa de 35%, das transferências de capital para todos os territórios com regime
fiscal mais favorável (como, por exemplo, a Holanda).
O objectivo
orçamental fixado pelo Governo de défice de 4% só poderia ser alcançado à custa
da ruína do país, do desastre económico e social. Apesar de não aceitarmos o
espartilho do défice as propostas apresentadas pelo PCP que significam o
aumento dos encargos para o Estado são compensadas em parte com outras
propostas de redução de despesa e arrecadação de receita. Estas últimas
traduzem-se num efeito orçamental positivo de mais de 10 mil milhões de euros.
As propostas do
PCP, no sentido de desagravar a carga tributária sobre os trabalhadores, os
reformados e pensionistas, as famílias, e as micro e pequenas empresas
representam uma redução de receita fiscal, substancialmente inferior ao
acréscimo de receita / redução de despesa que resulta de uma mais adequada
tributação do grande capital e da eliminação de rendas garantidas pelo Estado à
banca e aos grandes grupos.
Contudo, a estas
propostas de natureza fiscal acrescem outras, apresentadas anteriormente, que
visam repor os rendimentos e direitos dos trabalhadores, reformados e
pensionistas, assim como preservar as funções sociais do Estado, implicando um
substancial aumento de despesa, que o PCP assume, mesmo implicando o não
cumprimento dos objetivos para o défice orçamental imposto pela Troica.
O conjunto de todas
as propostas apresentadas pelo PCP, em sede do Orçamento do Estado para 2014,
afirmam a necessária alternativa ao rumo de desastre nacional seguido pelo
Governo no âmbito do Pacto de Agressão da Troica.
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