Com determinação,
com confiança, com sentido de responsabilidade, apresentamo-nos às eleições
para o Parlamento Europeu do próximo dia 25 de Maio.
Com a confiança e a
serenidade de quem prepara uma nova batalha estando onde sempre esteve: no
terreno da luta pela concretização de uma imensa vontade colectiva de mudança –
por um futuro melhor, para Portugal e para os portugueses. Estas eleições são
parte integrante desta luta.
Em Portugal, na
Europa e no mundo, vivemos um tempo de graves e inadiáveis opções. Este é o
tempo de, corajosamente, romper com o desastre, de afirmar um outro rumo e, com
entusiasmo, mobilizar energias para o concretizar.
Sem que a insidiosa
propaganda oficial o consiga iludir, Portugal foi arrastado para uma situação
de prolongada destruição económica e devastação social.
Depois de mais de
três décadas em que PSD e PS, com ou sem o CDS, se alternaram na governação do
País, e em que o fizeram em confronto com os valores de Abril e com a
Constituição que os acolheu; depois de mais de três décadas em que se ampliaram
os problemas e fragilidades da economia nacional, em que se acentuaram a sua
dependência, as dívidas e os défices estruturais e em que se agravaram as
desigualdades e as injustiças sociais; depois de mais de três décadas de uma
mesma política com idênticos protagonistas, eis que PS, PSD e CDS assinam com a
União Europeia e com o FMI aquilo que os últimos três anos da vida nacional
confirmaram ser um autêntico Pacto de Agressão ao País e ao seu povo.
Como então
avisámos, tratou-se e trata-se de uma premeditada estratégia, para, em face das
consequências desastrosas da sua política, prosseguir, com acrescida violência
e apoio estrangeiro, um projeto de subversão do regime
democrático-constitucional, de esbulho do património e recursos públicos, de
assalto aos rendimentos de quem trabalha ou trabalhou uma vida inteira, enfim,
um projeto de concentração da riqueza nas mãos de alguns, poucos, à custa da
exploração, da pobreza e da miséria de muitos.
Os resultados deste
Pacto de Agressão estão à vista: o País confronta-se com a mais longa recessão
económica da sua história contemporânea; o investimento caiu para níveis
próximos dos verificados na década de 50 do século passado, sendo reais os
riscos de obsolescência do nosso aparelho produtivo; os níveis de endividamento
e de dependência externa são os mais altos desde os tempos do fascismo; o
desemprego atingiu perto de um milhão e meio de trabalhadores; a fome voltou a
fazer parte do quotidiano de muitas famílias; centenas de milhares de pessoas
estão a ficar sem acesso a cuidados de saúde, muitas morrem prematuramente; 220
mil portugueses, na sua maioria jovens, foram forçados a emigrar, vendo negado
o direito a serem felizes no seu País.
Ao mesmo tempo,
este é o País em que, neste mesmo período, as 25 maiores fortunas aumentaram o
seu pecúlio em 16%, e em que o número de novos milionários cresceu mais de 10%.
O caminho que
percorremos é indissociável da continuada e crescente submissão do País aos
ditames, às políticas e orientações da União Europeia; um caminho indissociável
da opção de abdicação nacional, de grave comprometimento da soberania e
independência nacionais – uma opção assumida por PS, PSD e CDS ao longo das
últimas três décadas.
Nunca como hoje foi
tão evidente a relação entre os principais problemas do País e os
constrangimentos impostos pela União Europeia, pelo processo de integração
capitalista europeu – um processo que sempre afirmámos ser, e que a vida
comprovou ser, intrinsecamente injusto e desigual.
Como avisámos em
devido tempo, o embate desprotegido da economia nacional com economias mais
fortes levaria a uma profunda debilitação do aparelho produtivo nacional – na
agricultura, nas pescas, na indústria – e teria como consequência o agravamento
dos défices e da dívida, o agravamento da dependência e subordinação do nosso
país (como aliás de outros que entraram em condições semelhantes).
Tudo isto é
inseparável da livre concorrência no mercado único, das políticas comuns (de
agricultura, pescas e outras), da União Económica e Monetária e da adesão e
permanência na moeda única, da desregulação e liberalização do comércio
internacional.
Como avisámos em
devido tempo, também o desemprego, a precariedade, a desigualdade e a pobreza,
seriam e são consequências inseparáveis destes e de outros elementos
constitutivos desta integração capitalista europeia; elementos que decorrem, direta
ou indiretamente, dos seus tratados, como a livre circulação de capitais, a
desregulamentação laboral, a compressão dos salários, as liberalizações e
privatizações de sectores estratégicos da economia, a sujeição ao mercado de
praticamente todas as esferas da vida social – tudo isto, e mais, preconizado
nas sucessivas Estratégias da União Europeia, sendo a mais recente a Estratégia
UE2020.
Por esta razão
dizemos que a crise do capitalismo é, na União Europeia, uma crise dos
fundamentos da própria União Europeia.
Mas há mais. É que
para seguirem este caminho, foi sempre nas costas dos povos e fugindo ao seu
escrutínio que foram amputando parcelas crescentes de soberania dos Estados,
que foram impedindo ou limitando o uso de instrumentos e políticas mais
conformes à situação específica de cada País e aos interesses e aspirações do
seu povo. E assim puseram e põem em causa a própria democracia, esvaziando-a de
conteúdo substantivo.
Este processo
recebeu um forte impulso com a criação da União Económica e Monetária e do
Euro.
E aqui, uma década
e meia depois, há um balanço imprescindível a fazer. Um confronto entre as
miríficas promessas dos que fizeram do Euro um "grande desígnio
nacional" e a nua e crua realidade.
Quem não se lembra
da justificação para os sacrifícios então já impostos aos trabalhadores e ao
povo português em nome da entrada no Euro? Lembram-se do “pelotão da frente”?
Então como hoje, era a necessidade de cumprir metas arbitrárias do défice e da
dívida – em nome da dita convergência nominal, condição de adesão à moeda única
– o que justificava as privatizações, os cortes nas funções sociais do Estado,
a chamada “moderação salarial”. Em troca, prometiam, teríamos a convergência
real das economias, taxas de crescimento na ordem dos 3% ao ano, menos
desemprego e melhores salários.
A realidade, mais uma vez, confirmou o acerto de
todos os alertas e avisos que então fizemos.
A sujeição a uma
mesma política monetária e cambial de países com profundas disparidades nos
níveis de desenvolvimento económico e social e que, por isso mesmo, tinham e
têm necessidades diferenciadas, veio agravar todas as desigualdades e
desequilíbrios pré-existentes. (já para não falar nos constrangimentos impostos
à política orçamental e fiscal e nos constrangimentos decorrentes do mercado
único e demais políticas comuns)
Tínhamos e tivemos
razão! Temos razão! Mais do que nunca, a força da verdade, confronta as mentiras
dos que, ontem como hoje, querem atrelar Portugal à dependência e subordinação.
Ao longo de uma
década, o crescimento acumulado da nossa economia foi zero. Uma década perdida!
Portugal viu acentuar-se a sua condição de Estado dependente, subordinado e
periférico. A produção industrial e agrícola globalmente paralisou ou
retrocedeu. O endividamento externo (público e privado) disparou, o desemprego
e a precariedade dispararam, os salários reais encolheram, apesar dos lucros
terem crescido significativamente no mesmo período. Em Portugal como no
conjunto da Zona Euro. Assim se vê a quem serviu e a quem serve o Euro.
E é em nome da
manutenção do Euro e da manutenção de Portugal no Euro que hoje justificam
todos os sacrifícios, todos os roubos, toda a destruição económica, toda a
devastação social. Para no fim, como se viu, agravarem todas as dependências,
todas as desigualdades, todos os desequilíbrios no seio da própria Zona Euro. E
agravam-nos a um ponto que prenuncia, a prazo, uma inevitável ruptura.
Quando tal
acontecer, não tardará que venham atirar para as costas dos mesmos de sempre os
custos dessa ruptura.
Pela nossa parte,
há muito que denunciamos o que hoje se tornou evidente: a incompatibilidade
radical entre a permanência no Euro e na União Económica e Monetária e um projeto
de desenvolvimento democrático e soberano do País, estribado na Constituição da
República.
É hoje evidente que
a integração de Portugal na União Económica e Monetária e a adesão ao Euro
foram decisões erradas, com consequências devastadoras para o nosso país. Como
é evidente que o futuro do país é inviável dentro do Euro. Não devíamos ter
entrado. Mas também sabemos que a saída, hoje, não nos leva ao ponto de
partida, e muito menos ao ponto em que estaríamos se não tivéssemos entrado.
Daí a importância
da adopção de medidas que preparem o país (desde já) face a qualquer
reconfiguração da Zona Euro. Uma preparação que deve ser feita não apenas em
face de possíveis desenvolvimentos na crise da União Europeia, mas também em
nome de uma saída de Portugal do Euro por decisão e interesse próprios,
salvaguardando os interesses dos trabalhadores e do povo.
Uma preparação que
deve ser articulada com um conjunto amplo de medidas, que incluam,
impreterivelmente, uma urgente renegociação da dívida – nos seus prazos, juros
e montantes, libertando-a da sua componente ilegítima, – a defesa, aumento e
diversificação da produção nacional, a recuperação do controlo público,
democrático, sobre sectores-chave da economia, a reposição dos salários,
rendimentos e direitos roubados aos trabalhadores e ao povo português, e a
assunção de uma política soberana que afirme o primado dos interesses nacionais
sobre quaisquer constrangimentos decorrentes dos tratados e das políticas
comuns da União Europeia.
Este é,
evidentemente, um caminho de ruptura com o caminho ao qual PS, PSD e CDS
amarraram o País. É o caminho que consubstancia a mudança de rumo necessária, a
política alternativa, patriótica e de esquerda, que porá fim ao processo de
empobrecimento e extorsão a que o País e o povo se encontram submetidos; uma
política vinculada aos valores de Abril e que os projeta no presente e no
futuro de Portugal.
Em Portugal, como
na Europa, não podemos esperar que sejam aqueles que nos trouxeram ao desastre
que venham agora resolver os problemas que criaram. Por esta cristalina razão,
as próximas eleições para o Parlamento Europeu revestem-se de uma enorme
importância.
No horizonte pairam
sérias ameaças. Nestes últimos anos, direita e social-democracia, incluindo os
seus representantes nacionais, aprovaram no Parlamento Europeu, no Conselho e
nos Parlamentos Nacionais, sempre furtando-se ao debate público, um conjunto de
instrumentos da maior gravidade.
O Pacto para o Euro
Mais, o Semestre Europeu, a chamada Governação Económica e muito especialmente
o Tratado Orçamental, apontam um objectivo claro e uma estratégia para o
alcançar. O objectivo é o de impor o retrocesso social e civilizacional,
garantindo uma continuação da sangria de recursos dos países da periferia. A
estratégia para o conseguir passa por esvaziar as estruturas de poder mais
próximas dos cidadãos e que estes melhor controlam e por promover uma inaudita
concentração do poder político e económico, já não apenas num diretório de
potências, hegemonizado pela Alemanha, mas em instituições supranacionais, como
a Comissão Europeia, que passam a ter nas mãos decisões fundamentais da vida de
um País – política e opções orçamentais, emissão de dívida ou reformas de
política económica, passam a estar sujeitas ao escrutínio prévio e aprovação
destas entidades externas.
Estamos perante um projeto
de domínio político e económico, de recorte neocolonial, bem embrulhado na
retórica do "mais Europa", que visa eternizar as políticas associadas
aos programas de intervenção do FMI e da UE e impedir qualquer projeto de
desenvolvimento próprio, autónomo e soberano.
É este o projeto
que – no Parlamento Europeu, no Conselho e na Assembleia da República – PSD,
CDS e PS subscreveram e defendem.
É à luz deste projeto
que devem ser lidas as manobras de propaganda em torno da suposta saída da
troika do país. Sabem bem que, com troika ou sem troika, a vigência destes
instrumentos a que amarraram o país criará as condições para eternizarem a
política da troika.
Isto mesmo o assegurou
a chanceler alemã, quando tratou de esclarecer, para que não existissem
dúvidas, quais os objectivos do Tratado Orçamental. Dizia ela (e cito):
"garantir que mudando os governos, não mude a política" (fim de
citação).
É também a resposta
a este projeto e a estas intenções o que estará em causa nas próximas eleições.
Uma resposta que
encontra na CDU, no seu reforço e na eleição de mais deputados, a mais sólida
garantia de rejeição deste caminho e de afirmação de um rumo alternativo.
É que o modelo e o
sistema que as classes dominantes tentam impor aos povos da Europa não são
inevitáveis!
A resposta dos
trabalhadores e dos povos de vários países europeus à violenta ofensiva antissocial
em curso na União Europeia mostra-nos que uma outra Europa é possível – uma
Europa de progresso, de justiça social, de paz e de cooperação; uma Europa de
Estados soberanos, livres e iguais em direitos; que reconheça o direito de cada
povo a decidir as políticas (económicas e outras) que melhor lhe servem; que
salvaguarde a democracia e a efetiva participação dos povos na determinação do
seu destino.
Afirmaremos e lutaremos, nas instituições e fora
delas, por um rumo alternativo!
Um rumo alternativo:
- Que recupere o
comando político e democrático do processo de desenvolvimento, com a
subordinação do poder económico ao poder político e a afirmação do Estado como
estrutura determinante e referencial na economia;
- Que recupere para
os Estados instrumentos de política económica, monetária, orçamental e cambial;
- Que tem na propriedade
e gestão públicas de sectores estratégicos da economia uma condição para criar
riqueza e distribuir de forma socialmente justa a riqueza criada;
- Que salvaguarde e
reforce os serviços públicos; rejeitando e revertendo os processos de liberalização
e privatização em curso ou já concluídos;
- Que reforce os direitos dos trabalhadores,
incluindo o direito à contratação colectiva e a uma reforma digna;
- Que implemente medidas de combate à pobreza e à
exclusão social;
- Que promova a
convergência no progresso das normas sociais e ambientais, com a
institucionalização do princípio da não-regressão;
- Que promova o
desenvolvimento económico e o progresso social no quadro de uma relação
sustentável e harmoniosa entre o homem e a Natureza;
- Que rejeite o
militarismo e a guerra e promova a solução pacífica dos conflitos e o respeito
pelo direito internacional.
No Parlamento Europeu, os deputados eleitos pela
CDU:
- Sempre
defenderam, defendem e defenderão firmemente os interesses portugueses, combatendo
todas as decisões que os prejudiquem;
- Sempre
apresentaram, apresentam e apresentarão medidas concretas para minimizar os
condicionalismos e consequências negativas da integração;
- Sempre lutaram,
lutam e lutarão contra as imposições supranacionais e as limitações à
democracia e à vontade dos povos;
- Sempre tudo
fizeram, fazem e farão para utilizar a favor do progresso de Portugal e do
bem-estar dos portugueses todos os meios, recursos e possibilidades;
- E sempre agiram,
agem e agirão em articulação solidária com a luta dos trabalhadores e dos povos
de outros países, para romper com o processo de integração capitalista europeu
e abrir caminho a um projeto de cooperação solidária, assente no progresso, nos
valores da paz e da justiça social;
- Como sempre
agiram, agem e agirão com a consciência de que nada pode impedir que a força e
a vontade dos trabalhadores e do povo português, afirme e concretize o
inalienável direito de decidirem do seu próprio destino, escolhendo os caminhos
de soberania e desenvolvimento mais conformes com os seus interesses e
aspirações, na melhor das tradições da história do nosso País.
Estas são razões
que atestam da possibilidade, da necessidade e da justeza de elegermos mais
deputados da CDU nestas eleições!
A situação do País
e a solução para os problemas nacionais reclamam a ampla convergência dos que
não se resignam perante um País com o futuro comprometido. Dos que sabem que
Portugal não é um País pobre e se recusam a ver o seu país empobrecer. Dos que
acreditam nas potencialidades existentes e que sabem que estas, se bem
aproveitadas, podem abrir caminho a um País mais desenvolvido, mais justo e
soberano.
A CDU é e será um
espaço para essa ampla convergência. Uma força profundamente ligada ao pulsar
da vida, aos trabalhadores, às populações, à juventude, aos agricultores, aos
pescadores, aos pequenos e médios empresários, às suas inquietações, aos seus
anseios e aspirações; uma força que não alimenta equívocos ou ilusões sobre as
opções para resgatar o país do desastre; uma força que afirma com clareza, sem
ambiguidades, os direitos e conquistas que dão dignidade à nossa vida
colectiva; uma força que assume o direito à felicidade e à realização dos
portugueses como projeto e objectivo de luta!
Um luta que convoca
todos os que não estão dispostos a que a torrente de indignação e revolta que
percorre o país desagúe num mar de resignação e desânimo; os que sabem, pelo
contrário, que é possível transformar essa indignação e revolta em futuro!
Um futuro mais justo e desenvolvido – que está nas
nossas mãos!
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