As boas intenções
iniciais da maioria deste Parlamento claudicaram mais uma vez aos interesses
económicos das multinacionais de biotecnologia, em detrimento da defesa da
agricultura tradicional, do Ambiente, dos interesses e saúde das populações,
como infelizmente já esperávamos.
A proposta aprovada
ontem, que se refere à possibilidade de os Estados-Membros (EM) limitarem o
cultivo de organismos geneticamente modificados (OGM) no seu território, dá
mais espaço às grandes empresas de biotecnologia e do agronegócio para
rejeitarem e recorrerem em tribunal ao pedido dos EM.
Foram retirados
pontos essenciais da proposta inicial, tais como o princípio da Coexistência e
a introdução de zonas limpas entre países vizinhos, subvertendo e enfraquecendo
o princípio da precaução, acontecendo o mesmo com as preocupações e a defesa
ambiental, que deixam de ser a sua base legal. Não é tido em conta nenhum
regime de responsabilização, restituição e proteção de danos, nomeadamente no
que se refere aos requisitos em matéria de responsabilidade e garantias
financeiras, assim como não são garantidos os direitos que assistem aos
consumidores de escolha e aos agricultores tradicionais de não verem as suas
culturas contaminadas. Os Estados terão que pedir às multinacionais, que
produzem e comercializam os OGMs, autorização para que os exclua do seu âmbito
geográfico, deixando à sua arbitrariedade aceitar ou recusar esse pedido. É
inaceitável que os EM sejam remetidos para a situação de se sujeitar à boa
vontade das Empresas, para não comercializarem/cultivarem OGMs no seu
território, o que traduz, neste âmbito, a total submissão do poder político aos
interesses do grande capital.
Se dúvidas ainda
restassem sobre o modo como a maioria deste parlamento encara este tema e as
suas implicações, o simples facto de neste texto a base legal mudar da proteção
ambiental para a proteção do Mercado Interno, deixa a descoberto mais uma das
implicações do Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento com
os EUA, no que aos objectivos comerciais das grandes Empresas de Biotecnologia
(produtoras de OGM), com sede nos EUA, diz respeito.
Os deputados do PCP
no PE continuarão a defender a saúde, o ambiente e os agricultores, sendo
essencial uma aplicação efetiva do princípio da precaução, a retirada das
espécies já introduzidas de OGM, a realização de estudos independentes e
isentos sobre os OGMs e o seu impacto no ambiente e na saúde humana e animal.
Sendo o
desenvolvimento da investigação e da biotecnologia, uma base essencial ao progresso,
e ao desenvolvimento de técnicas e respostas a nível da medicina, da
agricultura ou da ciência dos alimentos, defendemos um cada vez maior
investimento público à investigação em contraste com o atual domínio dos
interesses das multinacionais.
O controlo das
sementes pelas multinacionais de Biotecnologia detentoras das patentes dos OGM
e o seu uso para aumentar a exploração dos pequenos e médios agricultores e da
agricultura familiar, tem que ser rejeitada, não havendo nenhuma razão válida
para que tal não aconteça.
O mercado e o
negócio não podem sobrepor-se à soberania dos Estados, à proteção da saúde e do
ambiente.
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